A família é onde tudo começa. É nela que recebemos nosso primeiro olhar de amor e, às vezes, também nossas primeiras feridas. É nesse ambiente que aprendemos a dar e a receber afeto, mas também onde enfrentamos desafios de convivência e compreensão.
Para muitos, a família é uma fonte de força; para outros, um terreno de mágoas que ainda precisa ser ressignificado.
Existem dois sentimentos essenciais para o ser humano: ser amado e ser reconhecido. Sem eles, sentimos um vazio, a sensação de rejeição e insatisfação, tanto conosco mesmos quanto com o mundo à nossa volta. A primeira oportunidade de vivenciarmos esses sentimentos acontece dentro da família. Isso é evidente desde o momento em que nascemos.
Ao nascer, somos totalmente dependentes de nossos pais ou daqueles que se dispõem a cuidar de nós. As relações afetivas e o amor começam a ser construídos nesse momento, e como é importante sermos bem cuidados e amados. Isso está diretamente relacionado ao tipo de pessoa que vamos nos tornar.
É preciso ressaltar também o esforço e a dedicação de quem cuida, pois essa é uma via de mão única, já que, enquanto bebês, não temos nada a oferecer devido à nossa total fragilidade e vulnerabilidade. A família é a primeira instituição onde experimentamos amor e reconhecimento, elementos essenciais para o nosso desenvolvimento.
A psicologia e a neurociência comprovam que crianças que recebem afeto, carinho e incentivo nos primeiros anos de vida (0 a 10 anos) têm mais chances de se tornar adultos mais resilientes e saudáveis. Isso ocorre porque as relações afetivas auxiliam no desenvolvimento de novos neurônios (neurogênese), especialmente na região do hipocampo cerebral, que é responsável por armazenar nossas memórias e emoções. Uma das maiores metas que você pode estabelecer na vida é cuidar da sua família.
Criar um lar estruturado, baseado em valores e virtudes humanas, por meio do afeto, amor, respeito e união, é sinônimo de paz e plenitude. O equilíbrio e a harmonia familiar são o combustível para manter sua energia e felicidade. De nada adianta ter fama, poder, dinheiro ou sucesso, se em casa não tivermos paz e tranquilidade. No entanto, sabemos que, infelizmente, muitas famílias não se encaixam nesse padrão.
Conflitos familiares podem gerar traumas emocionais que afetam a vida adulta. A psicoterapia pode ser crucial para resolver essas questões. Muitas pessoas carregam traumas, abusos, negligências e maus-tratos que, em algum momento da vida, podem se manifestar como transtornos mentais, sendo os mais comuns os transtornos de ansiedade e a depressão.
Além disso, conflitos familiares não resolvidos podem gerar problemas emocionais que, muitas vezes, adoecem ou paralisam as pessoas diante da vida, fazendo com que o passado se torne presente o tempo todo.
Muitas vezes, lidamos com traumas inconscientes que afetam todas as áreas da nossa vida. Já atendi inúmeras histórias de relações entre pais e filhos que geraram traumas. Notei também que existe muita mágoa e dificuldade de perdão por parte dos filhos. Sugiro que você reflita sobre isso: o perdão é libertador.
Devemos também honrar nossos pais, independentemente do que eles fizeram. Essas questões podem ser trabalhadas com a ajuda da psicoterapia. Pedir ajuda quando necessário e buscar o autoconhecimento tornam a vida mais leve e trazem sentido à nossa existência. Se, porventura, você se identificou com o que foi dito, é hora de tomar a decisão de cuidar de si mesmo.
Com esse olhar voltado à melhoria das suas relações familiares, destaco a importância de introduzir na rotina do seu lar o que eu chamo de “tripé da saúde familiar”:
- Amor: Tenha amor-próprio e demonstre afeto (palavras de afirmação, abraços, e diga frequentemente “eu te amo”).
- Educação: Ensine bons valores e virtudes, incentive seus filhos a estudar, trabalhar e administrar sua vida financeira.
- Religiosidade e espiritualidade: Encaminhe seus filhos para uma vida religiosa. Crie uma rotina espiritual em família (orem juntos, leiam um salmo). Fale sobre Deus, aprenda a conversar com Ele e passe esse aprendizado para seus filhos. Dê ênfase ao exercício diário da fé e da gratidão.
Diante disso, convido você a refletir sobre como anda a sua saúde familiar. Para isso, é necessário estar ciente dos papéis que você exerce no contexto familiar. Dependendo da sua idade ou da sua trajetória, talvez você não preencha todos esses papéis. Eles são: filho(a), irmão(ã), mãe ou pai, esposo(a).
Reflita sobre aqueles que fazem parte da sua história de vida. O primeiro passo é analisar a sua história com sua família de origem. Como foi sua convivência com as figuras paterna e materna? Como foi sua infância? Cercada de um bom convívio familiar ou de marcas profundas? Existe algo relevante ou traumático que tenha marcado sua vida, trazendo prejuízos na vida adulta?
Faça essa reflexão de forma detalhada e profunda, desde o seu nascimento até o momento em que saiu de casa. Se você ainda mora com seus pais ou algum familiar, ou pessoa que os representa, reflita e responda a essas perguntas: carrego culpa de alguma coisa? Alguém me magoou muito? Me arrependo de algo? Preciso perdoar alguém? Se sim, quem?
Em suma, os cuidados com a família são fundamentais para o nosso bem-estar e crescimento, tanto emocional quanto psicológico. Ao investir na construção de relacionamentos saudáveis e afetuosos dentro do lar, estamos não apenas fortalecendo os laços familiares, mas também criando um ambiente propício para o florescimento de todos os seus membros. Lembre-se de que, mesmo diante de desafios e feridas do passado, é possível curar, perdoar e reconstruir.
O caminho do autoconhecimento, do amor e do respeito mútuo é a chave para uma vida mais plena e harmoniosa. Cuide da sua família, pois é ela a base que sustenta suas raízes e projeta seu futuro.